segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Preso em liberdade





















Ao entardecer, debruçado pela janela,
E sabendo de soslaio que há campos em frente,
Leio até me arderem os olhos
O livro de Cesário Verde.

Que pena que tenho dele! Ele era um camponês
Que andava preso em liberdade pela cidade.
Mas o modo como olhava para as casas,
E o modo como reparava nas ruas,
E a maneira como dava pelas coisas,
É o de quem olha para as árvores,
E de quem desce os olhos pela estrada por onde vai andando
E anda a reparar nas flores que há pelos campos...

Por isso ele tinha aquela grande tristeza
Que ele nunca disse bem que tinha,
Mas andava na cidade como anda no campo
E triste como esmagar flores em livros
E pôr plantas em jarros...

Alberto Caeiro

sábado, 27 de fevereiro de 2016

complexidade



Entre o sono e o sonho,
Entre mim e o que em mim
É o quem eu me suponho,
corre um rio sem fim.

Passou por outras margens,
Diversas mais além,
Naquelas várias viagens
Que todo o rio tem.

Chegou onde hoje habito
A casa que hoje sou.
Passa, se eu me medito;
Se desperto, passou.

E quem me sinto e morre
No que me liga a mim
Dorme onde o rio corre -
Esse rio sem fim.

 Fernando Pessoa

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

ser livre






Voar
dançar
não crescer!
não desaprender
mas aprender de novo...

não estagnar
não se conformar!

cair
mas reerguer-se de novo!

GS